segunda-feira, novembro 18, 2013

18 Novembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

O tempo vai passando e sinto que esta casa me sufoca cada vez mais. Aquilo que no início era um oásis, um porto de abrigo para a minha pessoa, está progressivamente a tornar-se num local claustrofóbico para o meu estado de espírito.

Cada vez olho para Pierre com olhos mais desconfiados. E provavelmente sem razão. Contudo, o facto de ele ser a única pessoa com quem tenho mantido contacto faz com que estude tudo com o dobro da atenção. Coisas que outrora seriam perfeitamente banais são agora motivo de análise. O modo de como diz “bom dia”, os olhares com que me olha às refeições, os maneirismos que adquire quando se disfarça de sem-abrigo. Tudo em Pierre é neste momento suspeito.

É por essa razão que tenho de sair daqui. Não será assim tão fácil descobrir se posso ou não fiar-me nele. E creio que o melhor é não ficar à espera que surja uma prova dos nove.

Cabe agora definir o que fazer. Conto com que amanhã já não esteja a escrever nesta cama, por isso tenho de decidir para onde é que vou. Parece-me lógico que não possa ir até ao meu apartamento. O meu apartamento… Acabou de me ocorrer que se ainda não apareci nas notícias, é porque presumivelmente Mariana ainda não foi achada. Será possível? Será que no meio do meu pânico me acobardei de tal modo que deixei ao acaso o corpo morto de uma rapariga por quem me tinha apaixonado novamente? Confesso que sinto repulsa de mim mesmo ao escrever estas linhas.

É porém necessário manter-me objectivo, pelo menos por enquanto. O meu apartamento está riscado do mapa. Não deverei arriscar-me assim tanto. Ou deverei? Bem vistas as coisas tudo tem estado calmo. Será que sou procurado pelas autoridades? Talvez um novo hotel não seja mal pensado.

Há todavia algo que faz focar as minhas forças no meu apartamento. Sinto que com a pressa em ter fugido, existem muitas coisas que poderão ter escapado à minha atenção.

Tenho de decidir como vou agir amanhã. Tenho muito receio, mas se não o quero fazer por mim, ao menos que o faça por Mariana…


Carlos Neves
Bragança

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