quarta-feira, novembro 20, 2013

20 Novembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

                                                                 Algures no Meio da Serra



Hoje foi um dia negro e atribulado.


Ontem depois de muito reflectir, decidi ir ao apartamento. Sai, aproveitando a visita diária de Pierre aos sem-abrigo. Deixei uma nota de agradecimento, pois mesmo desconfiando dele, deu-me abrigo durante uns dias e senti que devia agradecer-lhe.


Pus o chapéu, e dirigi-me até ao meu apartamento. Depois de 20 minutos a pé, nos quais eu tremia de ansiedade, sem saber se me procuravam, cheguei à entrada. Parei do outro lado da rua, esperando um pouco enquanto respirava fundo, tentando controlar o nervosismo que me assaltou. Não se via ninguém na rua, e isso encorajou-me a continuar. Atravessei a rua e inspeccionei o meu carro, que se encontrava tal e qual como o tinha deixado, na frente do apartamento. Pelo pó no capô, diria que ninguém lhe mexeu e isso aliviou-me e deu-me alguma esperança.


Tirei então a chave do bolso e abri a porta devagarinho, quase sem ruído, e subi as escadas sempre com cuidado, não fosse o diabo tecê-las e ter alguém à minha espera. Entrei e fechei a porta com o mesmo cuidado, acendendo a luz.


Estava tudo tal e qual como tinha deixado naquele fatídico dia. Excepto uma coisa: os corpos tanto do Bruce como da Mariana já lá não estavam! Senti um arrepio na espinha, sem os corpos as provas que pretendia encontrar para provar a minha inocência tornavam-se mínimas. A confusão assaltou-me de novo e no silêncio procurei reviver aqueles últimos momentos em que vi ambos com vida.


Como é que um assassino conseguiria entrar na minha casa, arrastar a Mariana da cama e matá-la sem eu dar por isso? Eu devia ter ouvido gritos. Mesmo quando estrangulavam o Bruce deveria ter acordado com ele a miar e não acordei porquê? Não me encontrava tão cansado quanto isso, será que tinham colocado algo na comida ou na bebida do restaurante? E se o fizeram, porquê a mim? Porquê a ela?

Ao pensar nisso e ao tentar relembrar-me, deu me uma enorme dor de cabeça. Será que eu tinha dupla personalidade e por isso cometi os crimes e não me lembrava?


Liguei a televisão, para ver as notícias. Estavam a falar do incêndio no hotel em que tinha estado, quando a jornalista interrompe a notícia com um comunicado de última hora. O corpo de Mariana tinha sido encontrado, crucificado numa velha ponte de madeira, não muito longe dali. Escrito na madeira estava a tal mensagem enigmática “A minha vida pela tua, uma vez mais” e Bruce encontrava se deitado aos seus pés.


Algumas testemunhas descreviam um homem na casa dos 30, de chapéu preto. Quando mostraram o desenho da pessoa senti-me horripilado. Era um desenho meu! Descreviam-me a mim! Mas como?

A minha mente acelerou, a polícia rapidamente estaria ali por isso agarrei no casaco e nas chaves do carro e sai à pressa daquele sítio, antes que me apanhassem.


Entrei no carro, e guiei sem destino, pelo meio dos montes. Prefiro não revelar a minha localização para o caso de encontrarem este diário. A única coisa que posso revelar, é que vejo a aldeia daqui e o céu encontra-se limpo e estrelado. Continuo a reflectir.

Desde que comecei este maldito diário que nada corre bem! Parece que uma maldição me atingiu mal comecei a escrevê-lo. Aquela mensagem não me sai da cabeça, tem de ter algum significado! Terei lido a mesma em algum lado? Alguém me terá dito? Quem poderia ser assim tão cruel e por que me culpava a mim?


Não sei o que fazer e a loucura é que só posso confiar neste maldito diário, pois se não desabafar dou em louco! Talvez, enquanto escrevo surja a solução para esta trama horrível para a qual fui atirado. Um sentimento de justiça surge dentro de mim, tenho de encontrar o culpado custe o que custar. Tenho de saber quem fez isto à minha querida Mariana, nem que me custe a minha vida!



M. Silva

Vila do Conde

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