16 Dezembro 2013
Publicada por Um Dia à Vez
Um novo dia e tudo na mesma. Não
tenho qualquer contacto com outra pessoa, desde que me encontro prisioneiro
desta sala de um branco que agora me parece quimérico.
Mais uma vez acordei de uma sesta
que não sei se me durou três minutos ou oito horas. Mais uma vez tinha disposto perante mim um
tabuleiro, os talheres de plástico e duas tigelas (uma de sopa e outra com uma
comida de sabor bastante duvidoso).
Desta vez tentei porém comunicar
com o exterior, ao invés de ficar em silêncio como fizera ontem. Esperar que
alguém venha até mim está a deixar-me bastante inquieto, pelo que depois de ter
comido comecei a gritar para o vazio, pedindo que me viessem buscar o
tabuleiro. Não veio ninguém, tal como o meu íntimo já previa. Depois, com o meu
lápis desenhei dois riscos paralelos numa das paredes da divisão. Não sabia
quanto tempo ia ser deixado sozinho, por isso não queria perder noção do tempo.
Essa noção já era de certo modo inexistente, mas ao menos assim ficaria com uma
ideia, por muito abstracta que fosse.
Foi após mais algumas horas que
fiquei realmente nervoso. Tinha estado a fazer exercício para manter a mente e
o corpo ocupados e acabei por ceder ao cansaço. Quando despertei um novo
tabuleiro esperava por mim. Contudo, sem que me apercebesse, alguém entrara no
quarto para limpar os dois riscos que tinha feito na parede para não perder a
noção dos dias. Como é que é possível não acordar cada vez que alguém vem à
minha cela?
Ergui-me e comecei a gritar, ao
mesmo tempo que desferia murros e pontapés na porta. Nada.
Quando é que será que vem alguém?
Rita Pereira,
Coimbra
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