sexta-feira, dezembro 13, 2013

13 Dezembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

O meu pai costumava dizer que a loucura não entra a menos que lhe preparemos uma boa festa de boas-vindas.
Aqui, deitado no meu próprio terror, abraçado à minha confusão, sinto que pinto de negro todas as recordações boas que me passam pelos olhos; e lembro-me do meu pai que costumava dizer que a loucura não entra a menos que lhe preparemos uma boa festa de boas-vindas.

Não sei por que me surge isto agora.

Sinto-me cansado e penso no que o meu pai diria se me visse agora. Penso no que Mariana diria se estivesse aqui.
“A minha vida pela tua” entoando a intervalos regulares nos meus ouvidos, lacrado na minha pele; agrafo-me por dentro com os recentes acontecimentos e não lhes encontro sentido algum.

Se o meu pai estivesse aqui agora…

Sinto um abanão. O Vicente está a gritar por ajuda e tenta estancar o sangue que sai do meu corpo. Sinto-me fraco e confuso. O que fui eu fazer? Por que voltaram as alucinações? Por que morreu Mariana?
Uma voz feminina, histérica, a pressionar-me os pulsos com gaze, pergunta:
  
- Como é que ele fez isto? - talvez seja Teresa, a enfermeira-estagiária.

Sinto-me a desfalecer; e antes de fechar os olhos, ainda ouço o Vicente responder-lhe:

- Roubou-me o bisturi.

Depois, como num sonho, alguém me sussura ao ouvido: Não deixes a loucura entrar.

E eu decido não deixar.

Tânia Azevedo
Braga


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