28 Dezembro 2013
Publicada por Um Dia à Vez
- Francisco! – tornou o homem de
bata branca, que se assemelhava assustadoramente a um dos enfermeiros do
instituto em que estive preso.
Num primeiro impulso quis saltar
e tocar nas costas dele, que estava agora debruçado sobre a minha imagem,
sentada na cadeira. Contudo, assim que tentei fazê-lo, reparei que não
conseguia mover-me. Fechei os olhos com toda a força, estava em pânico. Quando
tornei a abri-los, fitava agora o homem de frente. Via agora o meu vulto
encostado à porta, pelo canto do olho. A voz de Rui era agora praticamente
imperceptível.
Quis perguntar o que se passava,
e inspirei em busca de ar. Porém não conseguia falar, balbuciando apenas um
conjunto de sons sem sentido.
- Diga Francisco, diga! –
incitou-me o homem, claramente entusiasmado.
Calei-me, tentei inspirar
novamente para uma nova tentativa. Mas rapidamente calei-me novamente. Junto do
meu vulto que permanecia junto da porta como uma assombração, vi que uma figura
mais pequena surgia ao seu lado. Berg espreitou para dentro da sala. Depois,
agarrou no braço do meu vulto.
Como que teletransportado, vi-me
uma vez mais na perspectiva do eu que estava junto da porta. Olhei para dentro
da sala. Ouvia novamente a voz de Rui a chamar-me.
- Francisco! Não desista
Francisco! – berrava agora o homem, transtornado com o estado catatónico para
qual o Francisco da cadeira voltava.
- Vamos – disse Berg,
simplesmente.
Quando me puxou senti-me a voar
pelo corredor fora. A porta fechou-se e eu voltava a toda a velocidade para o
Mamma Mia.
Assim que abri os olhos, Berg,
Greb e Rui olhavam para mim com receio. Eu estava deitado no chão e só via as
suas cabeças.
- Estás doido?? – gritou Berg,
quando comecei a tossir e a dar a ideia de que queria levantar-me.
- Eu… eu…
- Se pedes a nossa ajuda tudo bem
– afirmou Berg acaloradamente. – Mas depois não faças dessas!
Cada vez mais confuso
levantei-me. Todos os pinguins e bacalhaus observavam-me com um ar preocupado.
“Deve ser a tensão da competição”, ouvi um deles dizer para um companheiro. Até
a lula gigante olhava para mim com um ar tenso.
- Deves-me explicações – declarei
na direcção de Berg. – Preciso de saber exactamente o que se passa.
T.J.U, Lisboa
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