quinta-feira, dezembro 12, 2013

12 Dezembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

Após algumas horas a lutar contra o sono, adormeci.
Acordei na cela, de novo, e voltei a olhar para o meu braço. “A minha vida pela tua”, o que quererá dizer? Quem quer que a tenha escrito, quem quer que tenha sido, não deve ter boas intenções.
As alucinações pararam. Há algumas horas que estou lúcido. Dói-me muito a cabeça e as minhas pernas parecem ser uma parte independente de mim. Não as sinto e por mais que tente andar, não o consigo fazer. Provavelmente, é apenas mais um efeito de uma das muitas drogas que me têm sido administradas.
Tenho os meus braços com muitos buracos e tiras marcadas devido aos inúmeros garrotes que me fizeram para me poderem drogar.
                               
Oiço alguma coisa do lado de fora da porta, será apenas mais um enfermeiro que me vem buscar para me darem mais uma dose? Sinceramente, nem quero saber, simplesmente peço a alguém que me tire daqui o mais depressa possível.
Entraram na cela.
- Levanta-te. – disse um enfermeiro. Este enfermeiro era novo, tinha um crachá no peito que indicava o nome. Chamava-se Vicente. Aparentava ter  mais ou menos a minha idade. Talvez mais novo.
- Não sinto as pernas. Não me posso levantar. Ajude-me.
- Está certo. Sente-se. E eu agarrar-lhe-ei as mãos.

Acto contínuo, sentei-me. Ao sentar-me na cama, reparei que havia um bisturi no lavatório. Disse que queria lavar a cara, apanhei-o e pu-lo no bolso. Ao olhar-me ao espelho, notei que tinha uma cicatriz na cabeça, como se a tivesse partido. Não sei o que se passou. A minha mente parece estar mais lúcida e, de certa forma, mais sã do que anteriormente.
- Está pronto? Segure-se. – interrompeu Vicente.
Saí da cela e, quando passei por um corredor, pareceu-me ver o corpo de João. Estaria ele morto? Estaria desmaiado? Devia ir investigar, pensei. Que tal fazer o enfermeiro como refém e implorar para que me deixassem sair? Demasiado arrojado, supus. Vou ter que pensar em algo mais simples. Não sou nenhum Stallone para conseguir fazer tamanho acto. 

Ao fundo do corredor, entrámos numa porta à esquerda.
Era uma sala escura, apenas com uma luz ao meio, no tecto. Parecida a uma sala de operações.
Ao fundo, estava um vulto, sentado numa cadeira, amarrado. Tentei visualizar quem era, mas a minha visão turva, não me deixou. Estaria a alucinar outra vez? Quem seria aquele vulto que estava sentado, amarrado ao longe? Seria João? Seria Pierre? Seria... seria...
Ao longe, vi. O vulto era Mariana.
- A minha vida pela tua, uma vez mais. – repetia Mariana maquinalmente.
- Mariana, Mariana! Fala comigo, tu estás bem?
E ela continuava, maquinalmente a repetir aquelas palavras que eu já vira antes, demasiadas vezes.
Peço que me tirem daqui o mais rápido possível antes que enlouqueça mais do que aquilo que já estou.
- A minha vida pela tua, uma vez mais.



Rui Miguel Godinho
Vila Viçosa

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