quinta-feira, dezembro 05, 2013

5 Dezembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

Não sei que horas são, não sei quanto tempo dormi e nem tenho a certeza de hoje ser dia 5 de Dezembro. Acordei na enfermaria, mas lendo a última página do meu diário, confirmo que adormeci na minha cela. Não sei o que se passou, não me recordo de nada! Ao tentar levantar-me a minha cabeça explodiu como um bocado de dinamite guardado dentro de um tacho com chumbos. As dores foram tão fortes que constatei estar condenado a ficar estendido nesta cama. Estou a escrever deitado, com as mãos penduradas e não deve tardar até entrar alguém e me tirar o diário. Sinto uma dor fortíssima no braço direito que está todo coberto de pensos e desconheço o motivo. Os meus olhos mal se aguentam perante a intensidade da luz branca que invade todo o espaço. Não sei o que dizer, não sei o que pensar, e não sei o que sentir, até porque já nem consigo sentir nada.

Se eu não passei os últimos dias a sonhar e se não enlouqueci, então tenho visto o corpo desfigurado de Mariana, o corpo morto que vive, eu tenho-o visto, ele tem estado comigo… Ou então enlouqueci, ou então nada disto aconteceu, a Mariana nem sequer está morta e tudo não passa de coisas da minha cabeça, o cenário da insanidade parece-me um campo verde e florido. Assim poderia ter a certeza que não tinha assassinado ninguém, que nenhum morto me visitava e que tudo não passava de uma alucinação contínua, talvez sem cura, talvez crónica, talvez só curável com a minha morte. A morte parece-me um campo verde e florido.

As dores no meu braço estão cada vez mais intensas, e tenho quase a certeza que o meu discurso está desconexo. Os meus pensamentos atropelam-se e o meu discurso não deve estar diferente. A luz encadeia-me e enerva-me, o meu braço dói-me cada vez mais, e se calhar estou louco, ou a sonhar, ou vivo e tudo é real, e eu louco ou a sonhar!

O meu braço dói-me cada vez mais e sou impelido a arrancar os pensos. Agarro-os com toda a força e puxo de uma só vez. Por braço apenas desinfectante, sangue, e cortes. Cortes… Cortes ordenados, cortes montados, cortes que compõe uma frase: “A minha vida pela tua…” está escrito no meu braço, está cortado no meu braço… Numa caligrafia perfeita, que eu nunca conseguiria executar com a mão esquerda. Oiço passos atrás de mim, deve ser o enfermeiro ou o médico que vêm par…



Vasco Teixeira, 
Setúbal

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