20 Dezembro 2013
Publicada por Um Dia à Vez
Não sei bem o que dizer do dia de
hoje, penso que estou definitivamente maluco. O meu cérebro foi obrigado a
suportar tanto, que assinalo o dia 20 de Dezembro de 2013 como o dia em que ele
afirmou “basta”.
Depois de dar várias voltas
dentro da minha gaiola imaculada, depois de tanto pensar e depois de tantas
voltas dar, decido fazer algo ilógico. Um daqueles actos que fazemos por puro
instinto. Encaro o meu reflexo no espelho que surgiu na divisão e recito o
número de telemóvel que ontem foi escrito numa das paredes.
Após alguns segundos, aconteceu
aquilo que eu ainda não sei se aconteceu. Vou assumir desde já que não. Ouvi
alguns passos vindos do interior do espelho. Incrédulo, encostei o ouvido ao
mesmo. Não havia dúvida de que ouvia passos. Afastei-me e observei a figura de
dois anões velhos e gordos que caminhavam na minha direcção, como se o espelho
tivesse uma profundidade própria.
Recuei alguns passos e vi que
eles encostaram o enorme nariz ao lado de lá do espelho, como se estivessem a
estudar uma montra. Gritei.
- Oiça, não é preciso gritar,
está tudo bem – disse o anão de cabelos mais curtos. O outro riu-se roucamente.
- Temos uma coisa para lhe
mostrar – afirmou o segundo anão. Era mais velho e tinha uns densos cabelos
grisalhos.
Senti os joelhos a cederem ao meu
peso.
- Afinal de contas ligou para o
nosso número. É preciso esse aparato todo? – perguntou o anão mais velho. – Eu
sou o Berg. Aqui o meu amigo é o Greb. Viemos ajudá-lo.
Não consegui dizer uma palavra.
- Vai ficar aí ajoelhado? – Disse
Greb, coçando os seus cabelos negros e curtos.
- Eu… eu…
- Dê-me a mão – ordenou Berg com
simplicidade. Depois esticou a sua, que atravessou o espelho.
E ali ficou Berg, esperando com
uma mão esticada que abanava ligeiramente, como se procurasse agarrar a minha
mão. Foi aí que ganhei forças para gritar novamente. E desta vez gritei tanto
com esta cena macabra, que Berg foi obrigado a tirar a mão rapidamente.
- Pronto, já fez merda! – disse
ainda Greb, enquanto os dois anões fugiam no espelho para fora da minha vista.
Segundos depois a porta da minha
cela abriu-se e fui drogado por aquilo que me pareceu ser uma sonda que
disparava dardos tranquilizantes.
O pior no meio disto tudo, é que
já é de noite mas não consigo dormir. Volta não volta, oiço a tosse rouca de
Berg vinda do espelho.
O
Caçador de Batatas,
Horta situada num quintal
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