domingo, dezembro 15, 2013

15 Dezembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

Não sei ainda o que pensar desta nova situação. Não sei se estou ainda na prisão ou se estou num hospício. Os efeitos práticos não são muito distintos, pois estou de qualquer modo enclausurado entre quatro paredes. A única diferença reside possivelmente no contraste entre ter paredes sujas ou de um branco ironicamente puro.

Há apenas dois episódios que a meu ver ganham relevância para serem anotados.

O primeiro é que só me servem refeições quando durmo. Digo isto porque das duas vezes que despertei de um ténue descanso, descansava um tabuleiro junto da porta do cubículo com um prato de sopa e uma mistela que sabia a comida de hospital. Tudo com talheres de plástico a acompanhar. Não notei a porta a abrir em nenhuma das vezes, creio que estava demasiado fatigado para tal. Como o meu quarto não tem luminosidade natural, não faço ideia de qual dos tabuleiros era o almoço e o jantar.

O segundo momento de relevo sucedeu após algumas horas. Mais uma vez acordei de um sono leve, altura em que sonhava com o vulto de Mariana a deambular junto das minhas memórias. Olhei para a porta e encontrava-se um pequeno livro com um lápis. Mal pude acreditar que era o meu diário, que continha ainda todas as páginas soltas que eu havia escrito nestes últimos dias, já na prisão.

Confuso, estou tão confuso. O silêncio impera em demasia neste local. Começo a sentir falta de sons. Só tenho o raspar do lápis no meu diário a fazer-me companhia, que começa a ser insuficiente para fazer frente aos ecos do meu pensamento.


Luís Antunes,
Albufeira


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