11 Dezembro 2013
Publicada por Um Dia à Vez
Hoje não dormi, ou então estou a dormir. Já não consigo
distinguir, não me lembro do que faço acordado, não me lembro do que sonho. A
minha vida é um conjunto incessante de acontecimentos confusos. As palavras
fogem do papel em que as escrevo, já nem elas me querem. Tudo é uma sucessão de
vazios, entremeados por nadas e caos.
Eu sou um caos, e o caos rodeia-me de forma caótica. Tentei ler
as páginas passadas do meu diário, mas não entendo nada. Não entendo o meu
diário nem me entendo a mim próprio. O meu diário é um espelho de mim mesmo. As
páginas escritas são incompreensíveis, as páginas em branco são o que resta da
minha vida, e cada vez me parece mais plausível que fiquem por preencher. Já
não penso, já não sinto, apenas respiro. Ou pelo menos acho que respiro, nem
sei se estou a respirar neste momento. Hoje não dormi, ou então estou a dormir.
Para o que tenho feito, pouco importa.
Vejo as minhas palavras fugirem do papel, e pararem na
parede, logo ao lado da minúscula janela. Vejo-as a acenarem numa derradeira
despedida. Vejo-as a formar a cara de Mariana, da minha mãe, do meu pai, de
Pierre…Depois vejo-as partirem pela janela em busca de melhores locais, e
melhores pessoas para as proferir. Escrevo mais e vejo cada letra juntar-se às
suas companheiras nesta peregrinação rumo a um mundo novo. Um mundo longe de
mim. Caminham devagar pois sabem que não tentarei impedi-las.
Já disse que hoje não dormi?
Alberto Sousa
Óbidos
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