6 Dezembro 2013
Publicada por Um Dia à Vez
O tempo tornou-se num desígnio
que brinca com a minha vida. Tem-na nas suas mãos, torcendo-a e contorcendo-a
nos seus dedos longos e desprovidos de emoções. Não tenho noção dos minutos que
passam. Cada segundo pode ser um minuto, cada minuto é uma incógnita.
Hoje acordei e não sei que horas
são. Não sei sequer onde estou, pois este espaço não é a minha cela. Mas também
não é a enfermaria, segundo o que os meus sentidos turvos conseguem apurar.
Resta-me escrever com uma caligrafia que já não reconheço. As linhas das minhas
letras assemelham-se terrivelmente ao meu espírito: fracas, toscas, débeis…
Sugerem que uma criança escreve aquilo que sussurro ao seu ouvido. Meu Deus,
como um mês e um punhado de dias conseguem metamorfosear a vida de uma pessoa. A
minha mente projectou horrivelmente Samsa e a sua transformação num insecto
gigante. Neste caso a maçã seria a tatuagem que arde no meu braço.
Quem e porquê?
Noto que voltaram a colocar
pensos em redor da pintura grotesca que agora vive na minha carne. Uma ornamentação
tétrica que acompanhará o meu ser até aos fins dos seus dias. Qual o objectivo?
Será isto uma espécie de mensagem? Se sim, quem será o mensageiro? E pior, quem
quererá comunicar comigo?
Vou ter de parar de escrever.
Sinto que o meu raciocínio continua trôpego. Assumo que continuam a bombardear
as minhas veias com estupefacientes. Ao menos não há tanta dor. Além disso, o
enfermeiro já me veio avisar que daqui a meia hora vão mudar-me de lugar, pois
tenho uma consulta com um psiquiatra.
Uma leve esperança… espero que
ele consiga ajudar-me…
Daniel Trigo,
Lisboa
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