7 Dezembro 2013
Publicada por Um Dia à Vez
A minha cabeça
está a latejar. Não reconheço nada do que está à minha volta, nada me parece
familiar, não sei como vim até aqui, e pela primeira vez ponho em causa a minha
existência. Não sei dizer ao certo se o que ainda tenho consegue compensar o
que perdi, se consegue compensar a Mariana, ou mesmo a minha sanidade.
Há uma última
memória. Lembro-me de um homem já de idade, que me fitava como se estivesse a
avaliar a minha lucidez, ou a falta dela. Talvez fosse o tal psiquiatra que
todos diziam que eu precisava de “visitar”. Não sei dizer ao certo, nem sei que
espécie de tratamento psicológico me tentou incutir. Mas lembro-me que foi
então que tudo aconteceu.
As suas
palavras foram de repente abafadas por algo muito mais poderoso, o consultório
tornou-se num labirinto e os meus olhos em predadores à procura de um alvo que
insistia em fugir da mira assim que davam por ele. Era ela. Quando parou tive a
certeza. Aqueles olhos verdes massacrados mas irreconhecíveis. Ao seu lado
fitava-me ironicamente uma frase, da qual me recordo como se a estivesse a ler
agora mesmo.
“Ghosts are real. They live inside
us. And sometimes, they win.”
Fiquei
ofegante, incontrolável. Sei que tudo mudou nesse momento e apercebi-me que
nunca mais vou ser o mesmo Francisco de sempre. É angustiante pensar que toda a
tua vida pode dar uma completa reviravolta em menos de um piscar de olhos.
As dores
continuam, e as pancadas tornam-se mais fortes à medida que me esforço para me
relembrar do que realmente aconteceu. O que mais me perturba são as marcas que
tenho no meu corpo. Todo ele se queixa e não sou capaz de arranjar uma
explicação.
Pierre…
Lembro-me da sua presença. Como é que ele entrou naquela sala? Porquê? Estará
ele a causar isto tudo? Mas como? Porque continuo a desconfiar dele? Logo dele…
Estou a enlouquecer e a afundar-me em perguntas. Já não sei de mim.
M.
M.
Coimbra
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