sábado, novembro 16, 2013

16 Novembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

Assim que acordei, despachei-me em seguir para o hotel. Não sei o que me motivou para isto, mas foi como se um impulso maior que eu próprio me quisesse conduzir até lá. Eu sentia que tinha de encontrar algo para provar a minha inocência, sabia também que me colocava em risco absoluto, mas isso agora já parecia insignificante. Em risco estou eu há já vários dias, desde aquela fatídica noite.

O hotel estava fechado e vazio, fitas da polícia impediam o acesso. Contornei o edifício e encontrei uma porta traseira, velha e gasta o suficiente para eu a conseguir abrir ao pontapé. Assim que dei a primeira pancada ela chiou nos gonzos e abriu-se.
Ao entrar, todo aquele espaço pareceu absorver-me e devolver-me às garras do crime que ali aconteceu, o meu crime… Aquele que eu não cometi, mas cujo possessivo se mantém.

Subi as escadas, e a cada passo procurava um sinal. Uma pequena evidencia, qualquer coisa que me provasse que não posso ter sido eu. Que eu não sou o criminoso.
Ao atravessar o corredor, um pequeno objecto prendeu-me a atenção, era uma pequena caixa, do tamanho de uma caixa de fósforos comum. Ao apanhá-la verifiquei que estava cheia, de uma terra negra, e algumas pedras também escuras. Guardei a caixa, e continuei a minha vistoria.
Estava quase a chegar ao quarto, ao tal quarto, aquele onde eu estava, quando fui assaltado por uma dor de cabeça súbita. Um cheiro inarrável invadiu-me as narinas e uma dor que percorria todo o crânio e me convencia que os meus olhos já tinham abandonado a sua posição devida na cara. Foi como se o meu cérebro estivesse a ser directamente queimado com ácido. Caí de joelhos e não me lembro de mais nada.

Acordei, com um cheiro a fumo fortíssimo que invadia já todo o edifício, os meus olhos ardiam dolorosamente. Mesmo sem conseguir ver nada, e extremamente atordoado, não tive dificuldade em perceber que o hotel estava a arder. Percorri a escadaria mas a saída foi-me vedada por labaredas enormes. Corri de novo para o corredor, e só então me apercebi, que uma das portas estava aberta, apenas uma…a porta do quarto onde eu estava quando tudo aconteceu. Corri para lá, e vi que a janela estava também aberta. Arranjei coragem e corri para ela, evitei olhar quando saltei, mas a viagem até ao chão foi bastante curta. Senti um músculo da perna a rasgar, mas sem pensar nisso corri até a um táxi que me levou de volta para a casa de Pierre. Só agora consigo pensar, com discernimento, sobre o que se passou. O meu desmaio… O incêndio… Uma única porta aberta…e o facto de ser aquela…

Quando Pierre chegou, pensei em contar-lhe tudo o que se tinha passado, mas algo em mim, impeliu-me a não o fazer.

                                                    João Ferreira
                                                      Amarante

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