quarta-feira, novembro 27, 2013

27 Novembro 2013

Publicada por Um Dia à Vez

O Inverno chega. Sinto-o na minha janela. Nestes dias cinzentos, aproveito quase sempre para me prender à nostalgia e à tristeza. Acho que combina. Neste momento da minha vida, a nostalgia é o único suporte que me mantém em pé.  Cheguei a Lisboa no meu carro. Ainda Lisboa bocejava entorpecida. A ânsia era grande.
“A promessa foi feita Mariana! E eu sou um Homem de palavra”.

Percorri a cidade, envergonhado. Sorrateiramente, aproveitava as suas sombras e becos para passar despercebido. Não pertenço aqui! E esta maldita cidade, grita-me isso mesmo aos ouvidos em cada avenida que cruzo.

Finalmente encontrei um sitio para ficar. Resolvi esquivar-me dos locais onde existia a hipótese de ser reconhecido, mesmo que remota. Quero ter tempo e espaço para analisar toda esta situação sem ser interrompido por algum curioso.

“Olha para ti, Francisco!”- estas palavras absorvem o meu ser. Como posso eu olhar para mim? Como posso eu ter essa coragem? Sei que é isso que exigem de mim. Mas serei eu forte o suficiente? Vou tentar!

Deixei de parte as questões filosóficas que me debrucei no dia anterior. Hoje é dia de agir! Quero encerrar em mim a parte que me faz meditar, substituindo-a por um empirismo que não se baseia em metafísicas, mas sim na acção! Tenho uma missão. E toda a minha vida, de agora em diante, será a pensar nela. É a minha obrigação. Basta de fugir.

Recomposto, sentindo-me decidido, pego numa caneta. Vou traçar um plano. Vou fazer de tudo para me impor, inteligentemente. Quero descobrir a verdade, por mas sombria que ela se possa vir a mostrar.

Olhando pela janela, medito. Aprecio uma chávena de café. Na minha cabeça, vêm-me à memória o mendigo que vislumbrei hoje na estação. Roto, sujo, emaranhado. Aquele rosto entristecido pela vida, envergonhado enquanto estendia o seu copo na esperança que algum troco lá caísse. Senti vergonha na Humanidade. Os olhares de desprezo e repugnância que aquele desgraçado enfrenta todo o dia, foram como farpas na minha alma. Sinto-me um pouco como aquele senhor. Como se estendesse o meu copo à vida e ela só me atribuísse olhares reprovadores. Estou tão perdido quanto ele.

E a chuva cai.
Miguel Raposo, 
Odivelas.

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